quinta-feira, 17 de março de 2016

Roteiro - Episódio 1

PERSONAGENS
Bipo

Bárbara
Maximus
Mirtes
O Chef
Dois palhaços atendentes
Caveira motoqueira
Três Gordinhos
PRIMEIRO EPISÓDIO, por Tamara Costa
Música.
FADE IN.
Montagem da Caravana Casa. Se reúnem, trailer por trailer, no
centro tela.
LETTERING:"Extraordinário Circo do Bipo"
INT. TRAILER DO BIPO - DIA
Visão do janela de um trailer de circo, o sol nasce pingando gotas
de fogo no chão montanhoso.
No seu quarto, um mágico magro e franzino, está deitado na cama
de bruços, pijama preto e branco listrado. Dorme sorrindo
abraçado a um travesseiro. Em seu dedo, há um anel de pedra de
duas cores (preto e branco). Este é Bipo. Parece estar tendo um
sonho bom e satisfatório.
Acima da cama, um relógio cuco de madeira com a porta fechada
marca 09:09.
Um raio de sol atinge o olho de Bipo.
Bipo acorda abruptamente, senta na cama e abre os braços se
espreguiçando e olhando para a janela. Parece estar animado para
mais um dia no Circo.
BIPO
Ah, o primeiro raio de sol da manhã…. Me deixa bem humorado e
muito inspirado!
Bipo olha para seu anel preto e branco que se movimente e vai
ficando multicolorido, como uma paleta de cores misturadas.
Um passarinho com ares estressado sai de dentro do relógio cuco e
bica a cabeça de Bipo.
BIPO
Bem humorado, claro.. Quando pássaros não acordam comendo
meu cérebro...
Close-up de Bipo. Ele está de mau humor.
Close extremo/insert na mão de Bipo. A pedra do anel está preta.
Subjetiva de Bipo descendo da cama e caminhando em direção a
um biombo ao lado de sua cama. Passa por trás dele e, quando sai
do outro lado, está vestindo sua roupa preta de costume. Olha para
cima, a cartola paira sobre sua cabeça.
Close superior da mão de Bipo, onde o anel está ativo,
movimentando várias cores.
Panorâmica do quarto de Bipo. As paredes do quarto são cheias de
espelhos, da base ao topo, em diferentes formatos (círculo,
quadrado, triângulo, quebrado0.
Plano médio de Bipo de frente para os espelhos. Cada um de seus
reflexos parece ter vontade própria. Um é um velho carrancudo
tomando um café, outro está suado correndo numa esteira, o
seguinte escova os dentes de olhos fechados; outro é um garoto
andando de skate. Um deles está lendo “O banquete” de Platão.
Todos tem a face de Bipo.
BIPO (bem humorado)
E um bom dia pra todos vocês, Bipos!
REFLEXO VELHO
Quê que ele disse?
REFLEXO ESPORTISTA
Relaxa, man… O dia está lindo. Vamo malhar esse corpitcho!
REFLEXO INTELECTUAL
“A beleza é, fundamentalmente, um artefato distinto, sedutor e
mágico... Portanto, exige um rigor, algo para além dos padrões
estéticos....”
REFLEXO VELHO
EINNN?
EXT. CARAVANA CASA - JARDIM – DIA
Panorâmica do jardim da Caravana Casa. Há os trailers-quarto de
Bipo, Maximus, Barbara e Zé, formando um círculo, uma espécie de
vila. Nas imediações laterais, próximo ao trailer de Zé, há um
jardim com uma piscina de plástico e uma mesa para refeições.
Close superior de Maximus deitado de bruços na grama, de óculos
escuros, lendo um livro.
Close superior de bárbara de bruços, dentro da piscina. Ela está
tomando suco com um canudinho, que antes de entrar no copo,
forma um óculos. O líquido percorre toda a extensão de seu rosto.
Close superior no rosto de Barbara. Sua barbicha se movimenta
com o vento enquanto ela segura o copo e suga o canudinho.
BÁRBARA
Max, cê viu meu óculos novo?
MAXIMUS
GRR? [Vi sim]
BÁRBARA
Hummmm... Me deixa mais atraente, não acha? Com um ar
intelectual? Gosto bastante desses artefatos que, além de beleza,
nos deixam com aspecto de mais seriedade. O único problema é
que o suco fica com gosto de plástico... Eco!
Close superior de Maximus de barriga pra cima, rindo.
INT. TRAILER DO ZÉ - DIA
Panorâmica do quarto de Zé, é como um estábulo. Há feno pelo
chão e uma portinha indicando um vestuário/banheiro.
Close superior de Zé deitado de bruços no meio da pilha de feno.
ZÉ (OFF) RONCANDO
Panorâmica do quarto de Zé. Há mosquito enorme e barulhento
rodeando o corpo de Zé. O bicho mira rabo pontiagudo para picá-lo,
voa em direção a ele e gruda em seu pé. Ele acorda irritado.
ZÉ (irritado)
Putz! Já começou mal...
Zé levanta de sopetão, dá um tapa na bunda, retira o mosquito e o
joga o bicho no chão. O mosquito dá uma sacolejada e cai duro,
morto.
Subjetiva de Zé caminhando resmungando para o banheiro.
ZÉ (resmungando)
Drrrrr. DRRRRR.
Subjetiva de Zé dentro do banheiro. Ele abre o armário com
espelho acima da pia e um dos compartimentos está vazio.
ZÉ (surpreso)
Peraí…
Close superior de Zé vasculhando embaixo da pia, atrás do vaso
sanitário. Enquanto procura, derruba uma lata de lixo e deixa cair
alguns objetos em cima da pia, como escova de dente e pasta
dentifícia.

Caaaaadê meu pó?
Subjetiva Zé ao espelho. Sua imagem está cheia de espinhas, no
entanto, seu rosto parece normal.
ZÉ (choramingando)
Tá cada dia mais impossível continuar com esse tipo de vida, né,
Zé? É realmente isso que você quer pra sua vida? Todo dia,
acordar, me maquiar… Mas pra quê todo esse trabalho em vão? Não
temos espetáculos... há séculos.
Zé aguicha, pega a pasta de dente e passa no rosto - e segue
conversando consigo mesmo.

Mas o show tem que continuar, não é, meu caro? E, para bem ou
mal, como diz o Bipo…
Close de Zé com o rosto pintado de branco. Está com ar duvidoso.

O show que continuar!?
Close da imagem de Zé no espelho, com rachaduras no rosto.

Tem mesmo? Nessas condições?
EXTERNA - CARAVANA CASA - JARDIM/PISCINA - DIA
Panorâmica superior do jardim da Caravana Casa. A avestruz corre
pelo espaço de um lado para o outro enquanto Barbara e Maximus
seguem ao lado da piscina de plástico, deitados na grama, tomando
sol.
Close de Bárbara. Os óculos de canudinho está com a lente escura.
BÁRBARA
Esse meu oclitcho genial, ainda muda de cor no claro!
MAXIMUS
GRRR [Interessante]
BÁRBARA
Nem tinha percebido isso ainda… Incrível!
Bipo se aproxima e para ao lado dos dois. Subjetiva de Bipo
olhando para baixo.
BIPO (bom humor)
Bom dia, crazy people!
Bárbara e Maximus parecem nem ter percebido Bipo. Bárbara
levanta e delicamente entra dentro da piscina, segurando o copo de
suco. Deita na água e tomando suco com o óculos de canudinho.
Close up de Maximus está na grama, de bruços. Ele levanta a cueca
e vê a marca de sol.
MAXIMUS
Grrrr grr grrr [olha como estou queimadinho]
BIPO
Uau! Altos bronzes, Max. Cê pega cor rapidinho...
Bipo senta na espreguiçadeira e puxa a túnica para cima, revelando
sua perna fina e branca. Também ergue as mangas e seu braço
está mais escuro que as pernas.
BIPO
Oh, godsh! Tenho duas cores! Preciso me igualar.
Close superior de Bipo na espreguiçadeira.
Close de Zé raivoso.
Panorâmica do jardim. Zé vem caminhando em direção ao grupo,
batendo o pé com força no chão.
Insert Zé olhando por dentro da máscara branca de pasta dentifícia.
Close de Zé de máscara branca. Está toda rachada.
ZÉ (com raiva)
Hoje não tem bom dia pra ninguém!
MAXIMUS
GRRR GRRR! [que mau humor]
BIPO (surpreso)
Como assim, que mal humor é esse? Que troço é esse na sua cara?

Pasta dentifícia!
Close de Bárbara e Zé gargalhando.

Não tem nada de engraçado nisso! E… Bárbara e Maximus, vocês
são suspeitos!
BÁRBARA
Como assim, “suspeitos”?

Meu pó sumiu, desapareceu, escafedeu-se... ou pegaram,
afanaram, roubaram? Vim aqui pra pegar de volta. Devolvam!!!
BIPO
Como assim, pó?
BÁRBARA (com ar de indiferença)
DRRRR! De arroz! Até parece que vocês não sabem que ele não
vive sem isso...
Close de Zé e Maximus, que emite grunhidos se ele, tentando
acalmá-lo.
MAXIMUS
GRRRR GRR GRRR GRRR GGRRR… [Calma, querido. Ninguém aqui é
ladrão e você sabe disso]
ZÉ (irritado)
Ah, sem essa Max, guarda sua filosofia de merda pra lá. O lance
aqui é papo reto, sacou? Se você não sabe onde tá meu pó melhor,
não quero papo. To puto! E hoje não vou fazer nadida de nada
enquanto não recuperá-lo.
Close de Zé. A máscara começa a soltar os pedaços e cair no chão.
Zé segura a máscara com as duas mãos no rosto e sai da área do
jardim.
Da piscina, todos observam ele olhando atento para o chão. A
grama está grande. Zé está procurando pelo pó de arroz. A
avestruz passa correndo e quase o derruba.
BIPO (gritando)
Isso foi um sinal.... Zézito, já procurou na Mirtes?

Como assim, na Mirtes?
INT. DEPÓSITO DA CARAVANA CASA - DIA
Panorâmica do trailer de Zé. O depósito é uma salinha que fica
colada ao quarto dele. No local, há uma pilha de caixas
completamente desorganizadas. Umas estão abertas, outras
seladas. Seria impossível achar algo no lugar.
Subjetiva de Zé vendo uma caixa se movimentar. Ele a abre a
caixa, e um pó branco domina o ambiente.
Close da avestruz dentro da caixa, se maquiando com um espelho
na mão.

Foi você!!!! Sua maldita!
Zé segura a avestruz pelo pescoço, tentando a esganar. Mas Mirtez
consegue escapar, derrubando algumas caixas no chão, e delas
caem alguns objetos circenses. Entre cordas, lonas, nariz de
palhaço e sapatos coloridos, máscaras e vestidos, estão
vestimentas antigas de Bipo – uma túnica e um chapéu preto
idênticos ao atual.
Panorâmica superior de Zé no meio da bagunça.
EXT./INT DEPÓSITO DA CARAVANA CASA - DIA
Close de Bipo está com o ouvido colado na porta do depósito.
Quando a avestruz sai as pressas, ele se desequilibra e cai dentro
do quarto.
Em meio ao pó branco, fade in de Zé. Ele está muito bravo.
Bipo levanta e imediatamente vê suas vestimentas antigas pelo
chão, no meio da bagunça. Ele pega sua túnica, a ergue em sua
frente. Está visivelmente nostálgico.
BIPO
Ainnn, Zezito… Pelo menos você encontrou meus modelitos antigos,
que estavam perdidos há séculos.
Close de Bipo abraçando a túnica preta. Seu chapéu paira sobre sua
cabeça.
BIPO
Ainnnn que nostalgia! Saudades eternas dos meus amigos do freak
show...
Balão de memória com uma foto com os antigos integrantes do
freak show. Na foto preto e branco está Josefina, a mulher de
quatro pernas; Ella Harper, a garota camelo; Réditi, o menino
lagosta; Félix, o homem elástico; Fiodor, o homem-cachorro e Mike,
o frango sem cabeça.
BIPO (saudoso)
Saudades absurdas do Mike, aquele franguinho de cabeça perdida...
A porta do depósito abre e fecha sozinha.

Lá vem ela de novo!
EXT. DEPÓSITO DA CARAVANA CASA - DIA
Bipo abre a porta, sai do depósito e lá está Mirtes, a avestruz, no
jardim toda maquiada – com pó de arroz, rímel e batom.
Close na goela de Mirtes.
Com um raio-x imaginário, Bipo vê o pó de arroz de Zé na goela do
bicho.
BIPO
Como eu ia dizendo… O Mike seria incapaz de fazer isso…
Bipo pula de sopetão em cima da avestruz, a agarrando pelo
pescoço.
Close de Bipo sacudindo Mirtes. Ele espreme a goela dela, tentando
fazer com que ponha pra fora o pó de arroz.
Mirtes consegue se livrar e sai correndo com maquiagem toda
borrada.
Close de Mirtes correndo com a maquiagem borrada, já sem o
círculo em sua goela.
Close de Bipo choramingando.
BIPO
Já era!
Mirtes se aproxima e, com cuidado, começa a bebericar as lágrimas
de Bipo, que já formam um pequeno lago no chão.
EXT./INT. TRAILER DO BIPO - DIA
Bipo entra em seu quarto e a porta se fecha sozinha. Assustado, ele
dá um pulo.
Close do peito de Bipo com o coração saltitando, quase saindo para
fora.
BIPO
Ahhhhh! Cês querem me matar?
Panorâmica superior do quarto de Bipo. Os espelhos estão
indiferentes. A imagem do velho carrancudo está lendo
jornal. reflexo esportista, de boné, está fazendo abdominais. Ao
seu lado, um Bipo garoto está andando de patinete. O reflexo
intelectual, vestido com trajes elizabetanos, lê um livro. Na capa
está escrito “O banquete - PLATÃO”.
REFLEXO INTELECTUAL/BIPO
“O amor, então, o que será?”
REFLEXO ESPORTISTA/BIPO
Belo e jovem, certamente!
REFLEXO VELHO/BIPO (desaprovando)
Einnn?
BIPO
Mais ajuda quem não atrapalha! Vocês estão começando a me
irritar.
Subjetiva de Bipo olhando pela janela, onde estão Barbara e
Maximus tomando banho de piscina. Maximus está em formato de
círculo, fazendo piruetas. Bárbara está de bruços, com água há dois
dedos de altura, olhando seu reflexo na água enquanto tenta,
repetidamente, puxar o pelinho do queixo com a unha grande.
Maximus faz piruetas mas está claramente com medo de afogar:
tampa um nariz com uma mão antes de cair na água.
Close de Maximus tentando coçar as próprias costas, mas seus
braços não alcançam.
MAXIMUS
GRGGR R GRGRGR, GRR? [Bárbara, cê pode coçar minhas costas?]
Plano médio de Bárbara coçando as costas de Maximus.
Subjetiva de Bipo olhando para os espelhos. Os reflexos falam sem
parar e o barulho é ensurdecedor.
REFLEXO JOVEM/BIPO
Cês não estão com fome não?
REFLEXO VELHO/BIPO
Tenho fome, filho!
REFLEXO ESPANHOL/BIPO
Tengo hombre.
REFLEXO INGLÊS/BIPO
I'm hungry.
REFLEXO HIPPIE FLOWER POWER/BIPO
Eu estou vivendo de luz há...
Close de Bipo tampando os ouvidos.
BIPO
Quer saber? Vocês me cansaram! Vou dar um rolé…
EXT. AUTOESTRADA – DIA
Panorâmica da autoestrada. No infinito, de tão escaldante, goteja
foguinhos no chão do deserto. É um campo desértico, apenas com
algumas montanhas de areia vermelha e uma estrada de concreto
no meio. Não há sinal de vida.
Plano médio de Bipo caminhando no acostamento.
Close de Bipo. Ele está gotejando de suor.
Subjetiva de Bipo observando, ao longe, uma mobilete sem piloto
vindo em sua direção.
A mobilete para no meio da estrada, um pouco a frente de Bipo. É
pilotada por uma caveira.
CAVEIRA (gritando)
E ai, bicho, quer uma carona pro inferno?
BIPO (amedrontado)
Precisa não, minha senhora. Tou de boas aqui...
CAVEIRA
Tem certeza?
BIPO
Ah, demorou! Mais quente que isso num fica. Booora!
Plano médio de Bipo sentado na garupa da mobilete. A caveira
acelera e eles seguem pela estrada.
Panorâmica da autoestrada com a motocicleta fazendo curvas
sinuosas - em s - na pista. Bipo segura firme na garupa.
EXT. - CEMITÉRIO - DIA
Plano médio da caveira e Bipo. Ela freia bruscamente e para em
frente a um portão de cemitério.
CAVEIRA
Viajante… Por aqui eu fico!
BIPO (desconfiado)
Pois eu sigo… Vou entrar não… Preciso ver descolo um rango pra
galera do circo.
CAVEIRA
Boa sorte!
BIPO
Obrigada, simpática senhorita!
Bipo dá meia volta e segue caminhando pela autoestrada.
Panorâmica de Bipo no meio da autoestrada novamente. De longe,
dá um tchauzinho para a caveira.
Subjetiva de Bipo observando a aproximação de um caminhão
vermelho e amarelo, em alta velocidade.
Com uma das mãos, Bipo se abana com seu chapéu e, com a outra,
ergue o dedo, pedindo carona.
Close do bolso de sua túnica de Bipo; está para fora, vazio.
O caminhão em alta velocidade se aproxima e freia logo a frente de
Bipo.
Há uma placa com a inscrição “FoodTruque FastFood” e a imagem
de um sanduíche com vários andares de pão e carne.
EXT./INT. FASFOOD - DIA
O caminhão do FoodTruque FastFood está parado no acostamento
da autoestrada.
Um homem com o rosto pintado de palhaço desce da direção do
veículo, para em frente a Bipo e aponta um controle remoto para o
veículo.
Subjetiva de Bipo observando o homem - em seu boné há uma
inscrição “O CHEF”.
Acionado pelo Chef, o veículo começa a se desmontar. A parte de
trás do caminhão é box de lata pintada, cheio de compartimentos.
Em ação, a parte frontal se depreende da parte traseira, rola um
pouco para trás da direção e se engalfinha, com ganchos
automáticos, no chão.
Despreendia, a caixa traseira parece ter vida própria. Dela, erguese
uma lona.
Mãozinhas de ferro com luvinhas saem de dentro do compartimento
e começam a armar as mesas e cadeiras. Aos poucos, a lanchonete
vai sendo montada, automaticamente.
Close de Bipo surpreso.
Quando a montagem termina, a janela do balcão se abre e, atrás
dele, há dois palhaços tatuados, com ares meio medonhos, porém
risonhos.
PALHAÇOS
Booooooooom dia! AHHAHAAH
De trás do balcão, o dois palhaços iniciam uma coreografia.
PALHAÇOS (MÚSICA)
"Quantos hamburgueres você aguentar feitos mais rápido que um
piscar com um paozinho especial e um segredinho que permanece
aqui! É W (DUBLE) FAST! DUBLE FAST!
Close do dois palhaços gargalhando com ares sombrios.
EXT./INT. FASTFOOD - DIA
Bipo está sentado em uma das mesas, olhando surpreso a tudo que
acaba de acontecer. O Chef está sentado a seu lado, satisfeito com
o espetáculo da montagem do FoodTruque.
Panorâmica do FoodTruque com uma fumacinha saindo pela
chaminé da cozinha.
Balão de pensamento de Bipo imaginando o sanduíche. Maximus
beijando o sanduíche e Bárbara o degustando delicadamente.
Close da barriga de Bipo, que começa a dar sinais de fome, com
movimentos e barulhos altos.
Close dos dois atendentes gargalhando.
O Chef aparece de supetão no meio dos dois atendentes, atrás do
balcão.
Close dos três palhaços gargalhando.
O chefe salta por cima do balcão e para na frente de Bipo.
O CHEF (macabro)
Tudo isso é muito mais do que parece, querido consumidor. Tudo
isso jamais funcionaria sem um segredinho mágico!
BIPO (curioso)
Uau! Estou louco pra saber!
O CHEF
Então vamos lá, repete comigo: ‘AMO MUITO TUDO ISSO’
BIPO
Sério? ahahah
O CHEF
A-MO MUI-TO
Bipo segue imitando o chef. Quando termina de soletrar a frase
parece estar enfeitiçado, seu corpo está suspenso do chão.
Cooptado pelo Chef, Bipo entra na cozinha sem ver que acima da
cabeça, na porta, está escrito: “Procura-se operador de máquinas”.
INT. FASTFOOD - COZINHA - DIA
Plano geral da cozinha do ‘Foodtruque FastFood’. Na parte interna,
é mais espaçosa do que parece pela área externa. No local,
funciona um circuito automatizado, operado por mãos mecânicas
com luvas vermelhas e amarelas.
O Chef está empenhado a mostrar a Bipo como tudo funciona.
Ergue a mão apontado para o aparato, como se tivesse revelando o
tal segredo por trás do sanduíche…
Close de Bipo, seus olhos estão arregalados. Ele está maravilhado
com a engenhoca.
CHEF
Você tem algum compromisso hoje…? Biiii…
BIPO
Po!!
CHEF (entusiasmado)
Bipo, mesmo? Posso te chamar de Bibi?
Bipo concorda, sem graça.
CHEF
Então… Como esta é uma área de higiene máxima, vou pedir pra
você vestir uma roupa especial, assim evitamos que os alimentos
sejam contaminados.
Bipo concorda, parecendo estar meio enfeitiçado. Uma mãozinha
automática empurra Bipo para trás de um biombo.
Bipo sai do outro lado do biombo vestido com o uniforme do
FoodTruque FastFood - similar ao do Chef e dos palhaços.
O Chef segura no ombro direito de Bipo e delicadamente o empurra
para o centro de operação do maquinário.
Subjetiva de Bipo dentro do compartimento de operação. Há um
envoltório de vidro e, dentro, vários botões coloridos.
Bipo está sentado dentro do compartimento de operação. Seu
corpo, meio suspenso do banco. Ele parece não entender muito
bem - mas se deixa levar e começa a testar alguns botões.
Close da mão de Bipo apertando botões - o anel está branco.
Enquanto Bipo testa os botões, o Chef está com a cara grudada na
mesa de produção, vendo de perto as mãozinhas fazerem
sanduíches em escala.
CHEF
Nossos produtos são feitos com todo cuidado e armazenados em
condições especialíssimas. E mais gostoso que um W-Fastburguer,
somente mais dois!
EXT. FASTFOOD - DIA
Uma fila começa a se formar na área externa do estabelecimento.
Três gordinhos idênticos, suados e famintos, são os primeiros da
fila. Atrás deles, há outros gordinhos visivelmente ansiosos.
Plano médio dos três gordinhos se estapeando. Enquanto se batem
e se empurram, discutem.
GORDINHO 1
Cheguei primeiro!
GORDINHO 2
EU cheguei primeiro!
GORDINHO 3
Eu quero fazer um pedido!
GORDINHO 1
Eu, primeiro!
Panorâmica de um trailer isolado do veículo e do box com o balcão
e cozinha do estabelecimento. O trailer descompactado é similar ao
da cozinha, no entanto, há uma placa que indica "SALA PRIVATIVA".
Panorâmica da autoestrada com o FoodTruque FastFood parado no
acostamento. No centro, o sol a pino, pingando larvas de fogo no
chão do deserto.
INT. - FASTFOOD - SALA PRIVATIVA - DIA
Panorâmica da sala privativa. No local, a penas uma mesa com uma
cadeira grande, do chefe, e outra cadeira a frente, para a visita. Há
também um grande espelho atrás da mesa.
O chefe se encaminha para seu lugar, senta coloca os pés em cima
na mesa. Bipo também senta, logo a sua frente - e também de
frente para o espelho.
Um artefato automático, similar ao da cozinha do FastFood, com
mãozinhas automáticas com luva, sai de dentro da gaveta, dá uns
tapinhas na face do Chef e então injeta uma borrifada de pó em seu
rosto.
CHEF (satisfeito)
Esse maquinário sempre me surpreende!
Sentado de frente para o Chef, e também para o espelho, Bipo
percebe que sua refletida tem vida própria. Ela se desprende e
começa a gesticular com a boca.
REFLEXO (gesticulando)
Bipo, você foi hipnotizado pelo slogan macabro!
BIPO
O que?
REFLEXO
Shhhhhh! Não deixa ele me ver!
Desconfiado, o Chef olha para trás e o espelho volta a seu lugar.
O Chef então oferece a Bipo... experimente uma deliciosa bebida. A
mão automática coloca um copo na frente de Bipo, em cima da
mesa.
CHEF
Este é um elixir Argelino, curtido no molho de olhos de salamandras
selvagens.
Bipo ingere a bebida e seu reflexo no espelho balança a cabeça de
um lado para outro, o desaprovando.
EXT. CARAVANA CASA - JARDIM - DIA
A avestruz está no jardim, enérgica, caminhando de um lado para
outro, bicando o chão; como sempre está faminta.
Close da avestruz bicando um prego. Seu bico entorta.
Panorâmica superior do jardim. A avestruz corre girando em
círculos envolta da piscina, onde estão Bárbara e Maximus.
Close de Bárbara e Maximus de óculos escuros. Barbara levanta o
óculos, coloca na cabeça e Maximus leva um susto.
MAXIMUS
GRRRRR GRRR GRR [Cê queimou com o óculos!]
BÁRBARA
O que?
Bárbara sai de piscina e quase tromba no chão. Maximus a acode e
a deita no chão.
MAXIMUS
G R GRR GRR? (O que foi isso?)
BÁRBARA
Max, não comemos nada ainda… Acho que estou quase desmaiando
de fome.
MAXIMUS
GRRR GRRRR! (Vamos almoçar!)
BÁRBARA
Vamos almoçar, sim… Aliás, o que será que o Zé que fez hoje pro
almoço?
INT/EXT. TRAILER DO ZÉ - DIA
Close superior de Zé deitado numa espreguiçadeira, na sombra do
seu trailer - quarto. Está com uma toalha no rosto. Levanta, senta e
começa a gesticular, de longe, com Bárbara e Maximus.
ZÉ (gritando)
Já era, seus folgados! E mais… Hoje euzinho to de folga - vou cuidar
de mim! Preciso urgentemente de relaxamento. Meu rosto está
cada dia pior!
Zé entra em seu quarto-trailer e bate a porta.
INT. FASTFOOD - COZINHA - TARDE
Bipo está sentado dentro do compartimento de vidro que opera as
mãos automáticas. Vestido uniforme do FoodTruque, em sua cabeça
um boné escrito "Operador de máquinas". Bipo, ainda parecendo
estar suspenso e hipnotizados, aperta os botões coloridos e as
máquinas operam mais rápido que ele esperava. Bipo reduz a
velocidade da geringonça, e as máquinas começam a operar de
forma mais tranquila.
Close de Bipo. Ele está com o olho fundo.
Bipo olha em seu reflexo no vidro.
BIPO
Nooooosssa! Preciso comer alguma coisa…AGORA! Tô morto.
Bipo caminha em direção a chapa. Inclina-se para cheirar os
hambúrgueres fritando. Uma mãozinha automática o cutuca e com
os dedos indica que é proibido.
BIPO
Que isso? To trabalhando aqui e não posso nem comer um
pedacinho?
A mãozinha nega com os dedos.
Close de Bipo indignado. Suas sobrancelhas estão arqueadas.
Tentando disfarçar, Bipo começa a assobiar e enfia o dedo dentro
do balde de molho vermelho e coloca na boca.
BIPO (cochichando)
HUMMMMMM… Isso aqui tá bom.
Ainda tentando disfarçar da vigilância, pega uma colher dentro de
uma gaveta. Quando vai enfiá-la dentro do balde de molho, recebe
um cutucão no ombro. Ele não percebe e continua trazendo a colher
para perto da boca.
Bipo é surpreendido pelo Chef, que toma o talher de sua mão.
CHEF
Nananinanão! Comer enquanto trabalha não pode não!
O Cherf segura Bipo pelo ombro e o leva de volta para o
compartimento onde a máquina é operada. Bipo vai contra sua
vontade; está visivelmente desgostoso.
Close de Bipo dentro do operador. Acima dele, um relógio marca
18:18.
BIPO
Já tá mais que na hora de dar o fora daqui….
REFLEXO NO VIDRO
Finalmente! Deixa de ser iludido… Esse cara nem vai te pagar?
BIPO
Como assim? Nem um sanduichinho?
REFLEXO NO VIDRO
Até parece que esse muquirana escravizador seria capaz de dar
comida aos seus funcionários. Cê num percebeu que aqui só tem
máquina? E máquinas não se alimentam… Bipo, deixa de ser
otário…
BIPO
Ah, esse chefe explorador vai se ver… Deixa comigo, Bipo!
Bipo caminha em direção a porta de saída, e olha disfarçadamente
para fora, procurando pelo Chef.
EXT. FASTFOOD - DIA
Bipo passa a vassoura na área externa do FoodTruque. Está
assobiando, tentando disfarçar algo.
Depois de última mesa, encosta no trailer e caminha em direção a
sala privativa.
Plano médio do Chef no balcão, frente ao caixa, contando dinheiro,
apertando a máquina registradora e operando a calculadora. Os
palhaços estão ao lado, com as mãos para trás.
CHEF
10, 20, 30, 40, 50… 10, 20, 30, 40, 50
PALHAÇO 1
100!
CHEFE
10, 20, 30, 40, 50… 10, 20, 30, 40, 50
PALHAÇO 2
200!
Enquanto a equipe faz o balanço do dia, Bipo entra
disfarçadamente, na ponta dos pés, na sala privativa.
INT./EXT. FASTFOOD - SALA DO CHEF - DIA
Imediatamente ao entrar na sala, o reflexo de Bipo lhe recebe aos
gritos; está enfurecido com sua postura no dia.
REFLEXO/BIPO
Seu estúpido, iludido! Você é muito volúvel!
BIPO (sussurrando)
Psiuuuu. Fala baixo!
Subjetiva de Bipo olhando pela janela. Ele vê o Chef falando
baixinho com os dois atendentes. Eles estão lado de fora da
cozinha, próximos a porta do veículo.
Caminhando na ponta dos pés, Bipo abre a gaveta e pega o aparato
automático de borrifar pó de arroz. É uma espécie de cilindro
luminoso, multicolorido.
Close de Bipo levando uma borrifada automática na cara.
Rapidamente Bipo pega o aparato e uma mão automática sai da
gaveta e tenta tomar o pó dele.
Bipo e a mão automática se enroscam, brigando pelo pó.
BIPO
Isso não te pertence, criatura escravizada! Deixa isso aqui comigo…
Bipo ganha a briga e, com o pó ma mão, sai as pressas da sala.
A porta bate sozinha e uma mão automática sai por ela e empurra
Bipo no chão.
Da porta do veícuo, Chef vê a cena de longe.
Bipo está na área externa da sala, e acena dando tchau para a
equipe. No entanto, enquanto balança o braço, o cilindro mágico
acaba caindo no chão.
O Chef, de longe, chama de volta acenando com o dedo…
CHEF
Volta aquiii com issso, rapazinho!!!!
Bipo finge que não está entendendo e segue caminhando de costas
dando tchau.
CHEF
Pega ladrãoooo!
INT. VEÍCULO - DIA
Sentado no banco do motorista, o chefe aciona os motores do
FoodTruque e acelera alto.
CHEF
Entrem logo, seus imbecis!
Os dois palhaços entram na cabine do veículo.
EXT. AUTOESTRADA - DIA
[Cena da perseguição]
Bipo corre pela autoestrada, olhando de relance par trás.
O FoodTruck se aproxima em alta velocidade. O Chef dirige irritado,
com a cabeça para fora.
Bipo corre desesperado pela autopista.
Um caminhão que transporta vacas e galinhas dentro de jaulas está
no meio do caminho. O veículo anda devagar, máximo cuidado com
os animais. Bipo o alcança e pula na caçamba.
BIPO
Socoooorro, amiguinhos!
Bipo fala enquanto tenta alcançar o caminhão.
BIPO
Galera, preciso que vocês me ajudem. Tem um Chef louco atrás de
mim!
Uma das vacas transportadas parece estar desgostosa com a
situação.
VACA
MOOOOOwWWWW!
O piloto do caminhão se assusta com o grito da vaca e freia o
automóvel. Todos que estão na caçamba ficam no meio da pista.
Uma galinha gigante, do tamanho de um avestruz, escapa da jaula
e sai correndo. Bipo corre atrás dela.
Correndo, Bipo consegue montar na galinha gigante, que revida um
pouco, mas depois parece aceitar.
INT./EXT AUTOESTRADA/FASTFOOD - DIA
No veículo, após uma freada brusca e os dois palhaços são
arremessados para fora do veículo.
O Chef está com a expressão séria, indignado. Parece inconsolável.
CHEFE
Seus imprestáveis! Estão demitidos!
O Chef acelera, faz uma curva rapidamente e sai em direção a Bipo.
Os dois palhaços atendentes ficam largados no meio da pista.
Jogados no chão, com as roupas rasgadas e sujas, gargalham.
Close em um dos palhaços. Por um dos rasgos/machucados vemos
que são robôs.
EXT. AUTOESTRADA - DIA
O FoodTruque FastFood está a todo vapor percorrendo a estrada
vazia. Quanto mais o Chef acelera, mais fumaça sai do motor. O
barulho é ensurdecedor.
Bipo está montado na galinha gigante que, com as pernas longas,
consegue correr muito rápido.
O FoodTruque se aproxima de Bipo e a Galinha e os dois ficam
pareados. O veículo está na mão contrária.
CHEF
Devolve meu pó de arroz, seu ladrãozinho de meia tigela!
BIPO
Você quer de volta? Então toma!
Bipo arremessa seu chapéu, que acaba grudando no rosto do Chef,
ao voltante.
CHEF
Ahhhhh não estou vendo nada.. Estou cego!
O Chef luta conta o chapéu de Bipo, que segue colado em seu rosto.
Fora de controle, em zigue-zague no meio da pista, o FoodTruque
derrapa e cai de um penhasco na estrada.
Bipo e a galinha gigante seguem pela estrada.
Panorâmica da autoestrada com o sol se pondo.
EXT. CARAVANA CASA - NOITE
A lua brilha no meio do céu, revelando abaixo a Caravana Casa,
base do Extraordinário Circo do Bipo. Há uma lona branca e
vermelha montada, e uma pequena estrada que leva ao local.
A avestruz está na área externa do circo, com a maquiagem
borrada, bicando a grama.
Bipo se aproxima na estradinha montado na galinha gigante, que
agora caminha a passos lentos. O chapéu está em sua cabeça. O
bicho parece exausto, tanto quanto Bipo.
Bipo desce da galinha e a avestruz se aproxima.
A galinha e a avestruz se cheiram, parecem ter gostado uma da
outra.
BIPO
Mirtes, essa galinha salvou minha vida! Por favor, receba-a com
amor!
Bipo caminha em direção a Caravana Casa.
EXT/INT. CARAVANA CASA - NOITE
Ao entrar na Caravana Casa, Bipo vê Bárbara e Maximus já
desmaiados de fome, na área da piscina. Eles estão queimados de
sol e visivelmente mais magros. Ao o verem, os dois abrem os
olhos, fazem um movimento lento e desmaiam.
Preocupado, Bipo passa por eles correndo.
BIPO
Segurem firmes, amigos! Já já tudo estará resolvido.
Sentando em um banco de frente para seu trailer, Zé lixa as unhas.
Bipo para em frente a Zé. Em postura de mágico, tira chapéu da
cabeça e começa a remexê-lo.
BIPO
Zezito, tenho uma surpresa para você.
Zé ri, sem entender direito o que virá.
Bipo mexe novamente no chapéu e dela tira a maquiagem
instantânea dos palhaços do FoodTruque FastFood.
Close de Zé. Os olhos estão brilhantes. Ele está reluzente de
contentamento.
Bipo então o entrega o aparato para Zé.
Ao segurar o estojinho com as duas mãos, Zé leva uma carimbada
de pó na cara.
Zé instantaneamente muda de humor. Dá uma gargalhada e
começa a fazer piruetas.
Zé passa dando estrelinhas por Bárbara e Maximus e segue em
direção a dispensa.
Vestido de garçom, Zé volta com bandejas cheias de comida.
Zé assobia enquanto coloca a mesa galinha assada e várias frutas.
Barbara e Maximus se arrastam em direção a mesa.
Zé está exageradamente contente.
Plano médio de Bipo, Barbara e Maximus estão sentados a mesa.
Enquanto Zé serve a comida, Bipo ri um pouco sem graça.
Após servida a janta, Bárbara e Maximus começam a estraçalhar o
frango. Comendo-o rapidamente.

Alguém sabe me dizer qual é o cúmulo da alegria?
Bárbara e Maximus seguem devorando a comida.
BIPO
Um jantar feito pelo nosso chefe favorito?

Morrer de rir de própria piada! ahahahahah
Todos gargalham.
Panorâmica superior do Circo, com todos sentados na mesa, ao lado
da piscina.
FIM
[Epílogo] No dia seguinte, no FoodTruque FastFood está de novo na
estrada, só que todo amassado. Os três palhaços estão com o rosto
todo borrado e mau humorados. Quando o Chef tenta entrar no
automóvel, as maõzinhas automáticas o empurram para fora do
estabelecimento. O mesmo acontece com os funcionários. Então
uma das mãozinhas ergue uma placa e pendura na porta do veículo
estraçalhado: “FÉRIAS"

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Projeto - O Extraordinário Circo do Bipo

O Extraordinário Circo do Bipo

FORMATO

O Extraordinário Circo do Bipo orgulhosamente apresenta o incrível show de excentricidades da vida familiar. Tem marmelada? Tem. Arranca-rabo? Claro! Abraços e beijinhos? Tem também. Viagens? Tem demais. Fofuras ou travessuras? Temos as duas.

Orientados por Bipo, um mágico bipolar, Zé (o palhaço), Bárbara (a mulher barbada) e Maximus (o homem mais forte do mundo) irão visitar excêntricos mundos, conhecer seres escandalosamente extraordinários e se meter em enrascadas imprevisíveis. Tudo isso enquanto se deparam com lições de amor, amizade, respeito e perseverança.

Em cada episódio de aproximadamente 11 minutos, este comboio itinerante de talentos do freak show enfrentará nada mais nada menos que os desafios cotidianos. Num dia, vão todos passar fome na Caravana Casa (só porque ninguém quer cozinhar). No outro, precisarão de muita criatividade para não virarem o prato principal de dadaístas antropofágicos. Já na ‘Cidade Fantasma’, vivo é quem consegue encarar seus pesadelos e seguir em frente.

Com seu talento e características especiais, esta peculiar família irá encontrar as mais inusitadas respostas para os problemas do dia a dia. Aqui, o diferente é ingrediente, não um fado. A confusão pode ser a solução; e não ter controle sobre os acontecimentos pode ser a decisão mais sábia para o momento. Viva o belo e também o bizarro!

Respeitável público, antes de começar o espetáculo, é hora de conhecer nossas principais atrações:


PERSONAGENS PRINCIPAIS

●      Bipo, o mágico
Bipo é um sonhador, um idealista, um romântico incurável. Acredita que pode mudar o mundo, pois acredita em todo mundo. Sua meta de vida é levar a magia do circo para todos os cantos da Terra - seja ela redonda, quadrada, plana ou hexagonal.

Com a percepção aguçada e o espírito brincalhão, o mágico se deixa levar pelas pessoas e situações, até mesmo porque nada pode controlar, nem mesmo seu humor montanha-russa bipolar. Com sua extrema sensibilidade e empatia, puro e livre em suas fantasias, ele é capaz de captar até mesmo as transmissões e rádio e TV com seu bigode à la Salvador Dali. Para ele, a fraternidade circense vêm em primeiro lugar.

Iludido de que é um ótimo ilusionista, este mágico instável é capaz de realizar truques como tirar um coelho da cartola ou cartas de baralho de suas mangas, contudo tem dificuldades em tirar do bolso um trocado. Sem ninguém a seu lado, é incapaz de realizar tarefas mais básicas, como fazer uma faxina ou pregar um botão na camisa. Para isso, conta com a ajuda de Zé, seu braço direito ou talvez “sua patroa”. Por cima ou por baixo de suas artimanhas circenses, Bipo é notavelmente muito volúvel e indeciso; e às vezes se agarra a coisas que talvez ficassem melhor afastadas.

Seu grande e real poder consiste em ser capaz de aceitar as diferenças e promover a solidariedade no mundo em que habita. Talvez ele seja assim por ter presenciado as cenas mais bizarras em sua primeira infância, quando foi criado em um circo de horrores. Pequeno, fora amamentado por Josefina, a mulher de quatro pernas e levado muitas vezes no colo por Ella Harper, a garota camelo. Também comeu e festejou horrores com Réditi, o menino lagosta e curtiu intensas emoções na pele com Félix, o homem elástico, e Fiodor, o homem-cachorro. Além disso, aprendeu a importância de ser livre e descolado com Mike, o frango sem cabeça.

●      Zé, o palhaço
Como uma espécie de ‘marido-help’ ou homem de reparos, Zé é muito prático, sempre muito pé no chão. Se recusa a perder seu precioso tempo com conversas que não levam a nada. Sempre tem muito trabalho pela frente: apertar parafusos, serrar madeiras, trocar lâmpadas, consertar a geladeira, cozinhar, limpar o picadeiro. Ao contrário de Bipo, é calculista e objetivo. Enquanto o mágico passa o dia inteiro dialogando com espelhos, Zé tem a resposta na ponta da língua. É o ponta firme do grupo, sabe como proceder e a hora de chegar ou partir.

Como ninguém é perfeito, Zé também tem seus defeitos. Para começar, ele não tem muito senso de humor. Se frustra com facilidade e odeia se sentir preso ou explorado. Quando sente que está trabalhando mais do que devia, vai pra cidade em busca de jogos e gatinhas. Zé é também um cara ambicioso, dado a operações escusas. Tem uma coleção de joias que não usa e é muito apegado a um pó de arroz. Zé está empenhado em fazer o circo funcionar e por vezes sua ganância por sucesso, fama e grana acaba colocando a galera do circo em roubadas extrafamiliares.

●      Barbara, a mulher barbada
Criativa e profundamente elegante, Bárbara é simplesmente uma mulher linda e talentosa, uma exímia pianista. No entanto, devido ao estranhamento, o público tem certa dificuldade em reconhecer seu talento - o que ela adoraria. Por seu cuidado com a aparência, é notável que tem mania de perfeição em tudo que faz. Certa vez, passou dois dias inteiros chorando por ter tirado 9,8 em uma competição musical e ter ficado em segundo lugar. Ela tem muito medo de errar ou ser reprovada, por isso acaba procrastinando em frente ao espelho.

Sua barbicha, apesar de ser um excelente aparato distrativo (horas retocando olhando no espelho), é também um complexo, já que todo mundo costuma se fixar nesse mero detalhe. Seu grande desafio é aceitar suas imperfeições e permitir que os outros a vejam como realmente é, sem escudos protetores ou truques de beleza. Entre os dois dos mil e um disfarces que ela usa para esconder sua barbicha, destaque para o lencinho de moedas e o capacete com proteção de queixo.

É muito crítica e tem dificuldades de se abrir com as pessoas; apenas com Maximus compartilha seus anseios mais profundos, que envolvem principalmente questões da alma feminina. É bom avisar que se alguém derramar o leite fora do copo pode ser a gota d'água. Bárbara arma barraco, dá piti e também fica emburrada quando as coisas correm por fora do que ela previa. Também é muito nostálgica: tem saudades da infância e segue apegada a imagem de seu pai (também pianista), desaparecido há anos em um concerto de Chopin.

●      Maximus, o homem mais forte do mundo
O homem mais forte deste circo é nada mais nada menos que uma alma cândida. Além de intelectual é genial. Lê em vários idiomas. Dorme entre livros. Ama os pensadores clássicos, como Dostoievski, Proust, Heidegger. Maximus é um verdadeiro devorador, tanto dos livros quanto da comida. Enquanto lê uma brochura, comeria uma pratada de sarapatel, um pacote de pães de queijo, brioches de batata, bolo de fubá, sorvete de açaí. Por isso mesmo, sequer está em boa forma.

Apesar de possuir incrível arcabolso teórico-filosófico, não consegue se expressar verbalmente; emite apenas estranhos grunhidos - ou uma espécie de ronquinho. Maximus poderia apontar a solução matemática para os dilemas da vida. Ser ou não ser? Ele certamente pode traduzir em cálculo a questão, mas precisará da assistência e paciência de Bárbara para decifrá-lo.

Exímio dançarino burlesco (dança enquanto equilibra uma cadeira no queixo), é tímido e retraído. Não se deixe enganar pela aparência de Maximus: ele é um fofo, e seria incapaz de matar um mosquito. Na verdade, ele levaria muito a sério o zumbido desse inseto – meio parecido, às vezes, com seus próprios grunhidos.

  •    Caravana Casa
É o ponto de estabilidade dos personagens do circo. Tem acoplados os trailers ou quartos de Bipo (cheio de espelhos mágicos), Zé (a base de feno), Barbara (com um piano e uma penteadeira) e Maximus (abarrotado de livros, praticamente uma biblioteca). É o local onde dormem, se alimentam e se organizam para enfrentar as jornadas por realidades paralelas e, principalmente, os desafios cotidianos.

Seja na terra, no ar, na água ou no fogo, esta base de operações irá garantir a viagem dos personagens por diferentes mundos e realidades. Mutante e diversa, em meio às águas vira barca, nos céus é um balão e na terra um caminhão. É nesta engenhoca que o Circo do Bipo viverá os mais extraordinários acontecimentos do convívio em família.


TEMA/JUSTIFICATIVA

O Extraordinário Circo do Bipo é uma história sobre superação dos desafios cotidianos. O tema central são os laços afinidade de um grupo de amigos: pessoas que, ao longo da vida, nos ofertam sensação de pertencimento e de ser alguém especial.

A ideia da série surgiu da vontade de explorar o universo do estranho, do diferente, e assim discutir amplas questões como amizade, beleza, política ou virtude. Na construção dos personagens, propomos uma releitura ou desconstrução de significações sociais especialmente no que tange aos conceitos de “normalidade" e "anormalidade”; e buscamos a localização de um espaço social para a “loucura” e o “louco”, a diversidade, a divergência e a diferença. A exploração do que há de excêntrico nos personagens bizarros busca tão somente enfatizar a riqueza das diferenças - componente estruturante e fascinante da vida.

Retratando cenas familiares no cotidiano de um grupo de amigos vindos dos antigos freak shows, retomamos a primeira emanação de uma cultura de massa generalizada: o Vaudeville (show de variedades), gênero de entretenimento popular itinerante predominante entre no final do século XIX (1880-1930). Há uma alegria frívola e nonsense nesse tipo de espetáculo, que buscava atrair pessoas de interesses diferentes explorando o desejo universal pelo riso, pela melodia, cores, ação e coisas que provocam admiração.

Cada personagem é inspirado em um transtorno de humor ou personalidade. Bipo é bipolar, Maximus tem afasia, Bárbara tem dismorfobia (transtorno da imagem) e Zé tem transtorno desafiador opositivo. No entanto, iremos retratá-los em um contexto onde pessoas aparentemente problemáticas podem fazer parte da sociedade. Assim, de forma leve e divertida, buscamos refletir uma posição contrária ao tratamento farmacológico imediato em crianças ou um alerta para a banalização da medicalização em crianças e adolescentes. Mostraremos que eventuais sinais de disfunções sociais podem ser o ingrediente que faltava para que a vida seja mais criativa e menos ordinária.

Lembramos, com ênfase, que toda a pessoa humana é dotada de direitos, sendo, portanto inerentes à condição de ser humano, os Direitos da Personalidade, vulnerável ou historicamente violados, de tempos em tempos, por doutrinas ou pensamentos doutrinadores, como o capitalismo neoliberal - na série, a ser representado por alegorias de "cidades consumidas pelo consumo" ou personagens que representem a cultura de massas.

O desenho em formato de série irá incluir referências ao folclore e cultura do país, contribuindo para de dar conta da demanda crescente por conteúdos que consolidem a cadeia produtiva do mercado audiovisual brasileiro. O produto também tem a potencialidade de interagir com outras mídias – gerar outros produtos como website, games, quiss, quadrinhos, e produtos de marketing e publicidade, como toys arts e posters.


→  ARGUMENTO DO PRIMEIRO EPISÓDIO:

FASTFOOD NA ERA DO FOODTRUCK

Mais um dia comum nos bastidores do circo. Bipo acorda em seu trailer cheio de espelhos. Está muito bem-humorado, dá bom dia aos seus reflexos - alguns o respondem, outros apenas ignoram e seguem fazendo suas atividades (cortando unha, arrumando o cabelo). Maximus, o homem mais forte do mundo, está sentado num banquinho concentrado devorando um livro, passando os olhos rapidamente pelas páginas. Bárbara, a mulher barbada, sai se seu trailer com um espelho e uma pinça e senta ao lado dele, se penteando e retocando a barbicha. No relógio, são 10h10 da manhã. Todos aguardam o café da manhã, sempre preparado por Zé, o palhaço.

Zé está em seu trailer quarto, procurando aflito por algo. Vasculha as pilhas de feno em seus aposentos como se tivesse perdido uma agulha no palheiro. Ele sai de seus aposentos e, na área externa, todos o esperam ansiosamente para o café da manhã. No entanto, ele está muito bravo: seu olhar está raivoso, suas mãos estão na cintura. Ao ser questionado sobre a comida, responde que não irá mais cozinhar enquanto seu pó de arroz não aparecer. Zé é aficionado por este produto e não vive sem ele para se maquiar.

Bipo, Maximus e Bárbara começam a procurar o pó de arroz pela Caravana Casa, deixando o local uma bagunça. Enquanto isso, no quintal, a avestruz passeia tranquilamente com a cabeça branca: em sua goela há um círculo que indica onde foi parar o procurado pó. Ao perceber onde foi parar a maquiagem de Zé, Bipo corre atrás da avestruz e, ao alcançá-la, tenta fazê-la vomitar, mas a ave acaba terminando de engolir o precioso aparato de maquiagem do palhaço. Ao perceber o que fez, Bipo fica desorientado, pois já imagina a reação de Zé. E o palhaço é imprescindível para o funcionamento da casa. Ele arruma os trailers, o quintal, faz a comida e sempre tem um parafuso ou uma tábua fora do lugar. Sem Zé, Bipo não dá conta. As tarefas mais básicas são feitas por ele; e sem ele o circo seria uma zona total.

Bipo volta correndo para o seu trailer quarto, tranca a porta, olha em um de seus espelhos, buscando uma resposta para o dilema; mas seus reflexos estão indiferentes ao seu sofrimento e seguem fazendo suas atividades (pentendo o cabelo, olhando numa lupa). Ao olhar pela janela, vê Bárbara e Maximus ainda sentados à espera da refeição matinal e não quer desapontá-los. Bipo tem uma ideia: ir para a cidade em busca de um pó de arroz o mais rápido possível.

O mágico sai do circo e caminha em direção a estrada principal. Enquanto anda, olha para baixo muito pensativo. Sabe que não tem dinheiro para comprar um pó de arroz novo, sequer tem um bolso. Já na beira da estrada, ergue o dedo para pedir carona, mas nenhum dos carros que passam param. O caminho é desértico. Não há nada além de um curral com vagas e algumas galinhas soltas. Ao longe, como uma miragem, avista uma lanchonete em formato de caminhão. Nos letreiros lê-se “FoodTruque FastFood; coma rápido antes que a fome te devore”. No outdoor, uma promoção do melhor sanduíche do mundo, acompanhando por batata frita e um refrigerante. Bipo arregala os olhos e saliva ao ver o cartaz ao longe. Caminha em direção ao veículo. Bipo se aproxima do balcão e há dois atendentes vestidos de palhaço. Bipo está encantado com o estabelecimento e os palhaços fazem palhaçadas, sugerindo que o sanduíche mais gostoso do mundo tem um segredo indecifrável - nem eles mesmos sabem, apenas o donod o estabelecimento. Ainda na lateral do veículo está escrito: “Procura-se operador de máquina”.

Um palhaço sai de trás do veículo e assusta Bipo: é o dono da empresa. Em sua camisa há uma inscrição “O chefe”. O palhaço gargalha desmedidamente com ares sombrios. Está vestido com o uniforme como o dos outros dois. Bipo está meio assutado e ele mal se apresenta e pergunta se Bipo já experimentou o melhor sanduíche do mundo. Bipo está com fome, sua barriga dá estalos, e num balão de pensamento imagina Maximus devorando o sanduiche. Talvez para Bárbara seja grande demais. E Zé? Imediatamente lembra que a questão com o palhaço mais embaixo: ele precisa, antes da comida, do pó de arroz. Bipo logo pergunta ao atendente se por acaso eles trabalham com pó de arroz. Os dois palhaços atendentes, meio desconfiados, atrás do balcão negam veementemente. O chefe aparece de supetão atrás dos atendentes.

De dentro do veículo, chefe do estabelecimento apresenta a Bipo o FoodTruque FastFood. Lhe mostra a pequena cozinha toda automatizada, onde há mãos mecânicas de palhaços fritando batata e hambúrgueres, amassando pães e também os tirando do forno. As superfícies de metal reluzem e aparentemente está tudo muito limpo e organizado. Bipo se inclina para cheirar as batatas fritas e uma batata acaba ficando presa em seu bigode. Ao perceber que o mágico faminto irá comer uma batatinha, o chefe nega veementemente a ação e joga novamente a batata no óleo. Insiste para que Bipo conheça todos os detalhes, inclusive sua sala privativa - um trailer acoplado ao veículo. No caixa, há uma fila de pessoas esperando pela promoção, todas gordinhas e aparentemente viciadas em fast food.

Bipo e o chefe caminham para a sala privativa. Enquanto isso, os dois palhaços no balcão trabalham rapidamente, sempre sorrindo e fazendo piadas. Os clientes esperam ansiosamente pela comida. Na parte externa do veículo, há várias mesas e cadeiras para os clientes. Todos os lugares estão ocupados e há uma fila de espera. Bipo observa de longe o sucesso do empreendimento e fica maravilhado com a iniciativa. O chefe então segura nos ombros de Bipo e o empurra Bipo para dentro de sua sala.

O palhaço chefe entra em sua sala. Há uma mesa automatizada. Ele senta, coloca os pés na mesa, a gaveta imediatamente se abre e uma mão de palhaço ergue maquiagem instantânea. Enquanto recebe borrifadas automáticas de pó de arroz na cara, o chefe conta sobre o produto, diz capaz de maquiar seus funcionários em apenas alguns minutos, ao mesmo tempo em que lhe deixa mais engraçados e capazes de fazer piadas e conquistar os clientes. O chefe mostra como é acionado o aparato, um estojinho prateado, que imediatamente dispara uma borrifada gigante de pó de arroz no rosto de Bipo. Após levar uma borrifada, Bipo dá uma gargalhada e faz uma piada. O chefe então lhe oferece um uniforme e Bipo aceita, como se estivesse hipnotizado.

No circo, avestruz segue enérgica bicando toda a bagunça; roupas, instrumentos musicais, lonas, pregos. Bárbara e Maximus estão com tanta fome que já é visível que estão mais esguios. Meio sonâmbulos, mal conseguem se movimentar ou se comunicar. No entanto, ao verem o animal musculoso galináceo, já ficam animados e juntos começam a correr atrás dela.  A avestruz corre em círculos e os dois vão atrás dela, já a olhando como um frango assado. Zé segue irredutível lixando as unhas: não moverá uma palha enquanto não tiver sinais de seu pó de arroz.

No FoodTruque FastFood, tudo é trabalho. Sem se dar conta, Bipo já está uniformizado e sentado em frente a máquina automática que opera a fritagem dos hambúrgueres e batatas. Impressionado e tentando entender o funcionamento da geringonça automática, Bipo para em frente ao balde de óleo fervente e vê as batatas fritando. Segue faminto, mas é impedido de dar uma bicada na comida; toda vez que tenta é repreendido pelo chefe ou por uma mão automática. Quando pega colher uma para experimentar o molho colorido que sai da máquina, o chefe aparece de supetão e aperta um botão, fazendo com que a máquina sugue o líquido para dentro, como se fosse um chiclete. Ao se inclinar para cheirar a bandeja de pãezinhos, o chefe o puxa para trás e coloca em sua mão as caixinhas para embrulhar as promoções.

Bipo está em frente a máquina que opera a chapa de hambúrgueres suado e todo lambuzado de óleo. Após passar a mão no rosto, retira uma lâmina de óleo. Vai lamber o dedo, e é surpreendido pelo chefe com um vidro de detergente. Em seguida, Bipo está de fronte ao forninho olhando os pães assarem. Está vidrado, assistindo os pãezinhos incharem.  Uma mãozinha automática o cutuca e indica que volte ao posto de trabalho, operando a máquina.

Aós um dia de expediente, Bipo está passando a vassoura na área externa do Foodtruque. Retira todas as mesas e cadeiras e caminha em direção ao trailer do chefe. Entra na sala e vê sua imagem refletida no espelho do banheiro. Sua imagem acena, o chamando para o local. Ao entrar no banheiro, a porta se fecha sozinha. Sua imagem está irritada com Bipo, da forma como foi empregado sem mesmo saber se vai ganhar algo. Então lhe obriga a trocar de lugar com ela, para que ele consiga se livrar do trabalho escravo. De relance, ele percebe que o chefe está conversando baixinho com os dois atendentes lado de fora da conveniência. Bipo sai do banheiro e já com uma expressão mais decidida senta em frente a mesa do chefe. Sem que ninguém  note, senta na mesa, a gaveta se abre e uma mão ergue a maquiagem automática. Bipo segura o aparato, que puxa de volta, mas acaba conseguindo colocá-lo dentro da cartola.

O chefe do FoodTruque FastFood está em frente aos caixas contando o dinheiro. Bipo sai da sala e segue limpando o salão assobiando, tentando disfarçar. Tentando agradar seu novo funcionário, o chefe olha para a prateleira de hambúrgueres e vê que sobraram alguns. Então diz para o mágico que ele pode levar para casa as promoções do dia que não foram vendidas; e também refrigerante que ficou preso no coletor da máquina. Contente e satisfeito, Bipo coloca os restos de comida dentro de caixinhas coloridas e se despede. O chefe diz que o espera no próximo dia; afinal, fez um ótimo trabalho. Bipo concorda, dominado pela expressão que adquiriu após olhar no espelho, e sai com a certeza de que nunca mais voltará ali.

Bipo está na área externa ao do FoodTruque e acena dando tchau para o chefe e sua equipe. No entanto, enquanto balança o braço sem muito traquejo com as caixas de comida, o pó mágico acaba caindo no chão. Então o chefe o chama de volta acenando com o dedo, mas Bipo finge que não está vendo e segue caminhando de costas dando tchau. O chefe grita “pega ladrão” enquanto Bipo começa a correr pela estrada, tentando fugir.

O chefe aciona os motores do FoodTruque, os dois palhaços entram no veículo e começa a perseguição na estrada. Na correria, Bipo consegue pular na caçamba de um caminhão em movimento que transporta de vacas e galinhas gigantes. O veículo está na velocidade máxima e o chefe grita para que os palhaços coloquem mais carvão nos motores. Quando os dois veículos estão lado a lado, Bipo olha para uma galinha gigante e monta nela, deixando os dois caminhões para trás. Enquanto os palhaços tentam aumentar a velocidade, sendo comandados pelo chefe, que grita para que coloquem então óleo, batatas e pães nos motores. Quando percebe que será alcançado, Bipo joga as caixinhas de comida no meio da pista. O FoodTruque então derrapa e cai de um penhasco na estrada.

A galinha gigante então deixa Bipo em casa. Ao chegar no circo, a avestruz se aproxima do animal começa a bicá-lo. Sem conseguir controlar a avestruz, Bipo separa a briga e o empurra de volta para a estrada, lhe desejando um futuro melhor que o abate.

Ao entrar na Caravana Casa,  Bipo vê  Bárbara e Maximus já desmaiados de fome. Ao o verem, os dois abrem os olhos, fazem um movimento lento e desmaiam. Bipo passa por eles correndo em direção a Zé. Em postura de mágico, tira a cartola da cabeça e dela retira uma galinha, que sai correndo para o quintal. Zé ri, sem entender direito o que virá pela frente. Bipo mexe novamente na cartola e dela tira a maquiagem instantânea dos palhaços do FoodTruque FastFood. Os olhos de Zé brilham. Bipo então o entrega o aparato e, ao segurar o estojinho com as duas mãos, Zé leva uma carimbada de pó na cara.

Para surpresa de todos, Zé dá uma gargalhada e começa a fazer palhaçadas. Então caminha para  cozinha e começa a voltar com a bandeja cheia de comida. Começa a colocar à mesa um jantar saudável, que os esperava para o jantar: arroz, feijão, bife, batatas fritas e frutas de sobremesa. Todos sentam a mesa e, especialmente Bárbara e Maximus, devoram a comida, enquanto Zé faz piadas e ri sozinho. Bipo ri um pouco sem graça. Bárbara e Maximus apenas comem.

Epílogo: No dia seguinte, no FoodTruque FastFood está de novo na estrada, só que todo amassado. Os três palhaços estão com o rosto todo borrado e mau humorados. Quando o chefe tenta entrar no automóvel, as maozinhas automáticas o empurram para fora do estabelecimento. O mesmo acontece com os funcionários. Então uma das mãozinhas ergue uma placa e pendura na porta do Foodtruque: “Estamos de férias.”


EXEMPLOS DE OUTROS EPISÓDIOS:

EPISÓDIO 1 - SALVOS PELO PAU BRASIL
O circo vai para a praia. Bipo resolve fazer kitesurf e se distancia da costa mais do que devia. Após desmaiar de sede, tostando ao sol, chega numa ilha habitada por dadaístas antropofágicos. Além de serem cultuadores do sol negro, eles se comunicam usando figuras de linguagem, em especial oxímoros, como "esta é uma verdadeira mentira" ou "se apresse lentamente" ou "não experimente o doce veneno".  O mágico está maravilhado com os corpos sutis (braços que são cabeças ou corpos sem extremidades) e acaba fazendo vários amigos. Num passeio, come um pedaço do cacto, sem saber que é sagrado, e é condenado. Na mesma noite, todos iniciam uma dança coletiva. Bipo será sacrificado, apesar dele mesmo achar que está apenas ornando um ritual sagrado. Zé e Bárbara montam nas costas de Maximus e juntos seguem a nado para a ilha. No caminho, Zé recolhe uma oferenda no meio do mar para Iemanjá - um pedaço de madeira. Mais tarde, descobrirão que a oferenda na verdade é o talismã pau Brasil, sagrada arte talhada pelos ancestrais locais, que acabará por salvá-los.

EPISÓDIO 2 - OS FANTASMAS QUE MANTEMOS VIVOS
Neste episódio, a trupe chega numa cidade estranha onde aparentemente nada acontece. Após se perderem, cada integrante do grupo irá entrar em contato com seus fantasmas do passado. Bárbara acaba voltando para suas memórias de infância, quando quase fora levada por sua mãe para a Academia Feminina de Etiqueta e Boas Maneiras. Maximus fica preso dentro de uma academia fitness, rodeado por homens musculosos e depilados. Zé acaba voltando para o circo, pois trabalho não lhe falta. Bipo passeia pela cidade e conhece o Velho Cabeludo Ragatanga, o fantasma de um sábio selvagem que usa apenas uma tanga. Este mentor irá lhe revelar o que acontece no mundo dos mortos e o caminho para libertar Bárbara e Maximus de seus pesadelos.

EPISÓDIO 3 - SUAVE COISA NENHUMA: DECIFRA-ME OU TE DEVORO
Em segredo, Maximus decide fazer um retiro espiritual em um povoado nudista. Apesar de pacifistas, os iogues brigam muito por poder. Num dia de meditação em que são obrigados a ficarem em silêncio, brigam gesticulando. Bipo segue Maximus e acaba se perdendo no caminho. O mágico está prestes a ser devorado por um monstro faminto, que só pode ser vencido com a inteligência, após a resolução de uma questão ou mistério. Um dos desafios propostos  por esta espécie de esfinge é que seja imediatamente colocado em ordem um cubo mágico. Maximus recebe uma mensagem telepática que deve retornar e, no caminho, salva Bipo, após montar rapidamente o quebra-cabeça.

EPISÓDIO 4 - TRANCE & DANCE NA FLORESTA
Bipo captou sinais de uma festa na floresta intitulada Inffected Mushroom. Contudo, uma falha na transmissão lhe impede de ouvir o exato local do evento. Junto com Maximus, Bárbara e Zé, este último meio a contragosto, grupo adentrará a floresta em busca da farra. Após despistarem lobos, coiotes, ursos e até mesmo o curupira, o grupo se depara com os anfitriões da festa no meio da floresta: um casal de cultuadores da evolução psicodélica. Embalados por músicas experimentais, a trupe curtirá festa mais divertida de suas vidas.

EPISÓDIO 5 - QUEM NÃO TEM OFURÔ USA OFURICO
Zé está inspirado com a arquitetura pós-moderna e suas nuances inesperadas. Após folhear uma revista de arquitetura e paisagismo, decide modernizar as instalações do circo. Em companhia da trupe, vai parar numa megastore de artigos para o lar. Após rodarem por várias sessões e irem para o caixa com os carrinhos cheios de produtos, com os trocados reunidos de todos os integrantes do circo, só conseguem comprar um ofurô pré-moldado e um saquinho de sementes de girassol. Com a ajuda de Maximus, Zé seguirá as instruções do manual de montagem com aproximadamente 200 páginas e o resultado é, na leitura de Bipo, um excelente “ofurico”.

EPISÓDIO 6 - BOQUINHA NO OMBRO
Com a Caravana Casa em movimento, a trupe resolve fazer um passeio rio abaixo. Orientados pelos sinais captados por Bipo do programa radiofônico "Isso é horrível", são surpreendidos por uma contaminação no berço das águas. Maximus resolve dar um mergulho entre as plantas carnívoras e mutações genéticas. Após nadar entre células com massas humanas, pedaços de mão e pernas, acaba lhe nascendo uma apaixonante boca no braço direito. Voluntariosa e mundana, a boca começa a dar ordens ao grupo, que entra na onda e acabam se perdendo. No meio da mata, encontram um cientista excêntrico muito parecido com William Burroughs, que aparentemente tem a solução para dissolver a boca mutante e as direções para voltarem pra casa... Mas isso terá que ser muito bem negociado.

EPISÓDIO 7 - CADA UM COM SEU PASSADO
Após acordar de um sonho com seu falecido pai, Bárbara resgata suas memórias de infância vendo seu álbum de fotografias e todos são contagiados pelo clima de nostalgia. Enquanto revivem o nascimento de Maximus num campeonato de alterofilismo e as memórias de infância de Bipo no circo de horrores, Zé sai de fininho e todos ficam curiosos sobre seu obscuro passado. Após ver cenas do passado de Zé nos espelhos de seu trailer quarto, Bipo decide que irão passar uns dias numa fazenda. Para surpresa de todos, acabam chegando na casa da mãe de Zé, uma velhinha muito acolhedora e simplória. Constrangido, Zé fará de tudo para ir embora, mas para todos será difícil desvincularem-se do amor a natureza e despedirem-se da calmaria da vida no campo.




sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ROTEIRO/STORYLINE - O NASCIMENTO DE MAXIMUS

CENA 1 - Interna - Trailler do Maximus
Subjetiva de Maximus olhando na parede sua foto de infância, no colo de sua mãe. Close de Máxima (a mulher mais forte do mundo) segurando a filho recém nascido durante campeonato de levantamento de peso.

CENA 2 - Externa - Cidade fantasma no passado - flashback
Plano médio de Maxima caminhando pela cidade. Feirantes na rua, pessoas vendendo frutas, roupas - trocando. A cidade é viva, as pessoas caminham, comem, conversa. Maxima é jovem, gorducha, leve bigode português, colã e tênis e munhequeira. Meio desastrada,  derruba algumas coisas ao passar e recoloca no lugar. Troca sua munhequeira por um cacho imenso de bananas (tipo um pedaço de bananeira). Enquanto descasca uma banana, observa ao longe a lona circo (subjetiva).

CENA 3 - Externa - Circo - flashback
Panorâmica do circo no passado. Há somente a lona e traillers.

CENA 4 - Externa - Cidade/circo (caminho) - flashback
Panorâmica de Barbara caminhando rumo ao circo com um cacho de bananas comendo uma banana. Luzes tecnicolor circundam o circo. Maxima está encantada, como se estivesse sido atraída pela mágica do circo.

CENA 5 - Externa - Circo - flashback
Na entrada do circo, um cartaz de Bipo. Em subjetiva, Máxima visualiza a imagem e conseguintes feixes de luz (preto branco amarelo vermelho) vindos de dentro do trailler de Bipo. Bipo fala com voz em OFF com Máxima (transmissão de pensamento/telepatia).

CENA 6 - Interna - trailler do Bipo - flashback
Máxima caminha em direção a tenda Bipo. Parece tranquila ou graciosamente hipnotizada. Deixa a penca de bananas cair no chão e entra na tenda tecnolor.

CENA 7 - Externa - cidade - flashback
Máxima está numa fila ao lado de homens muito fortes/alterofilistas. Todos irão se inscrever para o campeonato de levantamento de pesos. É a única mulher. Close de Maxima preenchendo uma ficha. Há um homem sentando recolhendo os papeis. Quando Maxima entrega sua ficha, este homem a olha com desconfiança. Cartazes circulam pela cidade divulgando a competição de levantamento de pesos.  "IMPERDÍVEL/INCRÍVEL/VENHAM CONFERIR O HOMEM MAIS FORTE DO MUNDO".
CENA 8 - Interna - Campeonato de alterofilismo - flashback (nascimento de Maximus)
No campeonato, três competidores chegam a final. Máxima é a única mulher do local, entre dois homens musculosos. Nos bastidores do campeonato. Subjetiva de Maxima olhando o músculo de sua barriga contraindo. Maxima está se alongando, preparando para entrar na competição. Disfarçadamente  vai para um canto, tira o espelho do bolso.

CENA 9 - Interna - cabine do Bipo - passado - flashback
Plano médio de Maxima e Bipo no antigo trailler de Bipo - já com muitos espelhos. Bipo retira um pedaço do espelho e a entrega. Maxima coloca no bolso.
BIPO
Quando precisar de uma resposta, olhe no espelho.
MAXIMA (olhando no espelho)
Eu quero ser a mulher mais forte do mundo!
Maxima sai do trailer confiante e volta para a cidade.
CENA 10 - Externa - cidade - passado - flashback
Máxima passeia pelas ruas com o cacho de bananas em uma das mãos e o espelho em e outra - de vez em quando dá uma olhada. Close do espelho emite uma luz iridescente e volta ao formato espelho.Maxim Desta vez parece conferir algo nas laterais da face, imperfeições, dá mais uma piscada. Resolve comer outra banana. Na terceira olhada fixa-se bem na pupila dos olhos – arregala-os.

CENA 11 - Interna - Campeonato de alterofilismo - flashback (nascimento de Maximus)
Público está ansioso a espera da final da competição. Os três competidores se preparam para entrar no palco (alongam-se, se exibem olhando no espelho). Maxima tira o espelho magico de Bipo do bolso e vê tudo embaçado. Maxima entra no palco e suas contrações abdominais são visíveis. Ao sinal, os três tentam levantar o peso ao mesmo tempo. Máxima faz caras bizarras e se espreme ao máximo para levantar a barra. Com muita força, consegue levantar a barra até o meio. Se concentra e ergue a barra – e permanece por cerca de 5 segundos com a barra levantada (tempo necessário para vencer a competição). Faz uma cara de riso e choro ao mesmo tempo olhando para o público que está frenético - gritando, de repente olham todos abismados, assustados.

Plano médio de Maxima agachando novamente para deixar a barra no chão, com cuidado. Ao olhar para o chão, vê Maximus movimentando os pezinhos e dando risinhos. Ele já nasceu com uma roupinha similar a sua. Máxima olha para Máximo e com orgulho exibe seu maior troféu.