segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Projeto - O Extraordinário Circo do Bipo

O Extraordinário Circo do Bipo

FORMATO

O Extraordinário Circo do Bipo orgulhosamente apresenta o incrível show de excentricidades da vida familiar. Tem marmelada? Tem. Arranca-rabo? Claro! Abraços e beijinhos? Tem também. Viagens? Tem demais. Fofuras ou travessuras? Temos as duas.

Orientados por Bipo, um mágico bipolar, Zé (o palhaço), Bárbara (a mulher barbada) e Maximus (o homem mais forte do mundo) irão visitar excêntricos mundos, conhecer seres escandalosamente extraordinários e se meter em enrascadas imprevisíveis. Tudo isso enquanto se deparam com lições de amor, amizade, respeito e perseverança.

Em cada episódio de aproximadamente 11 minutos, este comboio itinerante de talentos do freak show enfrentará nada mais nada menos que os desafios cotidianos. Num dia, vão todos passar fome na Caravana Casa (só porque ninguém quer cozinhar). No outro, precisarão de muita criatividade para não virarem o prato principal de dadaístas antropofágicos. Já na ‘Cidade Fantasma’, vivo é quem consegue encarar seus pesadelos e seguir em frente.

Com seu talento e características especiais, esta peculiar família irá encontrar as mais inusitadas respostas para os problemas do dia a dia. Aqui, o diferente é ingrediente, não um fado. A confusão pode ser a solução; e não ter controle sobre os acontecimentos pode ser a decisão mais sábia para o momento. Viva o belo e também o bizarro!

Respeitável público, antes de começar o espetáculo, é hora de conhecer nossas principais atrações:


PERSONAGENS PRINCIPAIS

●      Bipo, o mágico
Bipo é um sonhador, um idealista, um romântico incurável. Acredita que pode mudar o mundo, pois acredita em todo mundo. Sua meta de vida é levar a magia do circo para todos os cantos da Terra - seja ela redonda, quadrada, plana ou hexagonal.

Com a percepção aguçada e o espírito brincalhão, o mágico se deixa levar pelas pessoas e situações, até mesmo porque nada pode controlar, nem mesmo seu humor montanha-russa bipolar. Com sua extrema sensibilidade e empatia, puro e livre em suas fantasias, ele é capaz de captar até mesmo as transmissões e rádio e TV com seu bigode à la Salvador Dali. Para ele, a fraternidade circense vêm em primeiro lugar.

Iludido de que é um ótimo ilusionista, este mágico instável é capaz de realizar truques como tirar um coelho da cartola ou cartas de baralho de suas mangas, contudo tem dificuldades em tirar do bolso um trocado. Sem ninguém a seu lado, é incapaz de realizar tarefas mais básicas, como fazer uma faxina ou pregar um botão na camisa. Para isso, conta com a ajuda de Zé, seu braço direito ou talvez “sua patroa”. Por cima ou por baixo de suas artimanhas circenses, Bipo é notavelmente muito volúvel e indeciso; e às vezes se agarra a coisas que talvez ficassem melhor afastadas.

Seu grande e real poder consiste em ser capaz de aceitar as diferenças e promover a solidariedade no mundo em que habita. Talvez ele seja assim por ter presenciado as cenas mais bizarras em sua primeira infância, quando foi criado em um circo de horrores. Pequeno, fora amamentado por Josefina, a mulher de quatro pernas e levado muitas vezes no colo por Ella Harper, a garota camelo. Também comeu e festejou horrores com Réditi, o menino lagosta e curtiu intensas emoções na pele com Félix, o homem elástico, e Fiodor, o homem-cachorro. Além disso, aprendeu a importância de ser livre e descolado com Mike, o frango sem cabeça.

●      Zé, o palhaço
Como uma espécie de ‘marido-help’ ou homem de reparos, Zé é muito prático, sempre muito pé no chão. Se recusa a perder seu precioso tempo com conversas que não levam a nada. Sempre tem muito trabalho pela frente: apertar parafusos, serrar madeiras, trocar lâmpadas, consertar a geladeira, cozinhar, limpar o picadeiro. Ao contrário de Bipo, é calculista e objetivo. Enquanto o mágico passa o dia inteiro dialogando com espelhos, Zé tem a resposta na ponta da língua. É o ponta firme do grupo, sabe como proceder e a hora de chegar ou partir.

Como ninguém é perfeito, Zé também tem seus defeitos. Para começar, ele não tem muito senso de humor. Se frustra com facilidade e odeia se sentir preso ou explorado. Quando sente que está trabalhando mais do que devia, vai pra cidade em busca de jogos e gatinhas. Zé é também um cara ambicioso, dado a operações escusas. Tem uma coleção de joias que não usa e é muito apegado a um pó de arroz. Zé está empenhado em fazer o circo funcionar e por vezes sua ganância por sucesso, fama e grana acaba colocando a galera do circo em roubadas extrafamiliares.

●      Barbara, a mulher barbada
Criativa e profundamente elegante, Bárbara é simplesmente uma mulher linda e talentosa, uma exímia pianista. No entanto, devido ao estranhamento, o público tem certa dificuldade em reconhecer seu talento - o que ela adoraria. Por seu cuidado com a aparência, é notável que tem mania de perfeição em tudo que faz. Certa vez, passou dois dias inteiros chorando por ter tirado 9,8 em uma competição musical e ter ficado em segundo lugar. Ela tem muito medo de errar ou ser reprovada, por isso acaba procrastinando em frente ao espelho.

Sua barbicha, apesar de ser um excelente aparato distrativo (horas retocando olhando no espelho), é também um complexo, já que todo mundo costuma se fixar nesse mero detalhe. Seu grande desafio é aceitar suas imperfeições e permitir que os outros a vejam como realmente é, sem escudos protetores ou truques de beleza. Entre os dois dos mil e um disfarces que ela usa para esconder sua barbicha, destaque para o lencinho de moedas e o capacete com proteção de queixo.

É muito crítica e tem dificuldades de se abrir com as pessoas; apenas com Maximus compartilha seus anseios mais profundos, que envolvem principalmente questões da alma feminina. É bom avisar que se alguém derramar o leite fora do copo pode ser a gota d'água. Bárbara arma barraco, dá piti e também fica emburrada quando as coisas correm por fora do que ela previa. Também é muito nostálgica: tem saudades da infância e segue apegada a imagem de seu pai (também pianista), desaparecido há anos em um concerto de Chopin.

●      Maximus, o homem mais forte do mundo
O homem mais forte deste circo é nada mais nada menos que uma alma cândida. Além de intelectual é genial. Lê em vários idiomas. Dorme entre livros. Ama os pensadores clássicos, como Dostoievski, Proust, Heidegger. Maximus é um verdadeiro devorador, tanto dos livros quanto da comida. Enquanto lê uma brochura, comeria uma pratada de sarapatel, um pacote de pães de queijo, brioches de batata, bolo de fubá, sorvete de açaí. Por isso mesmo, sequer está em boa forma.

Apesar de possuir incrível arcabolso teórico-filosófico, não consegue se expressar verbalmente; emite apenas estranhos grunhidos - ou uma espécie de ronquinho. Maximus poderia apontar a solução matemática para os dilemas da vida. Ser ou não ser? Ele certamente pode traduzir em cálculo a questão, mas precisará da assistência e paciência de Bárbara para decifrá-lo.

Exímio dançarino burlesco (dança enquanto equilibra uma cadeira no queixo), é tímido e retraído. Não se deixe enganar pela aparência de Maximus: ele é um fofo, e seria incapaz de matar um mosquito. Na verdade, ele levaria muito a sério o zumbido desse inseto – meio parecido, às vezes, com seus próprios grunhidos.

  •    Caravana Casa
É o ponto de estabilidade dos personagens do circo. Tem acoplados os trailers ou quartos de Bipo (cheio de espelhos mágicos), Zé (a base de feno), Barbara (com um piano e uma penteadeira) e Maximus (abarrotado de livros, praticamente uma biblioteca). É o local onde dormem, se alimentam e se organizam para enfrentar as jornadas por realidades paralelas e, principalmente, os desafios cotidianos.

Seja na terra, no ar, na água ou no fogo, esta base de operações irá garantir a viagem dos personagens por diferentes mundos e realidades. Mutante e diversa, em meio às águas vira barca, nos céus é um balão e na terra um caminhão. É nesta engenhoca que o Circo do Bipo viverá os mais extraordinários acontecimentos do convívio em família.


TEMA/JUSTIFICATIVA

O Extraordinário Circo do Bipo é uma história sobre superação dos desafios cotidianos. O tema central são os laços afinidade de um grupo de amigos: pessoas que, ao longo da vida, nos ofertam sensação de pertencimento e de ser alguém especial.

A ideia da série surgiu da vontade de explorar o universo do estranho, do diferente, e assim discutir amplas questões como amizade, beleza, política ou virtude. Na construção dos personagens, propomos uma releitura ou desconstrução de significações sociais especialmente no que tange aos conceitos de “normalidade" e "anormalidade”; e buscamos a localização de um espaço social para a “loucura” e o “louco”, a diversidade, a divergência e a diferença. A exploração do que há de excêntrico nos personagens bizarros busca tão somente enfatizar a riqueza das diferenças - componente estruturante e fascinante da vida.

Retratando cenas familiares no cotidiano de um grupo de amigos vindos dos antigos freak shows, retomamos a primeira emanação de uma cultura de massa generalizada: o Vaudeville (show de variedades), gênero de entretenimento popular itinerante predominante entre no final do século XIX (1880-1930). Há uma alegria frívola e nonsense nesse tipo de espetáculo, que buscava atrair pessoas de interesses diferentes explorando o desejo universal pelo riso, pela melodia, cores, ação e coisas que provocam admiração.

Cada personagem é inspirado em um transtorno de humor ou personalidade. Bipo é bipolar, Maximus tem afasia, Bárbara tem dismorfobia (transtorno da imagem) e Zé tem transtorno desafiador opositivo. No entanto, iremos retratá-los em um contexto onde pessoas aparentemente problemáticas podem fazer parte da sociedade. Assim, de forma leve e divertida, buscamos refletir uma posição contrária ao tratamento farmacológico imediato em crianças ou um alerta para a banalização da medicalização em crianças e adolescentes. Mostraremos que eventuais sinais de disfunções sociais podem ser o ingrediente que faltava para que a vida seja mais criativa e menos ordinária.

Lembramos, com ênfase, que toda a pessoa humana é dotada de direitos, sendo, portanto inerentes à condição de ser humano, os Direitos da Personalidade, vulnerável ou historicamente violados, de tempos em tempos, por doutrinas ou pensamentos doutrinadores, como o capitalismo neoliberal - na série, a ser representado por alegorias de "cidades consumidas pelo consumo" ou personagens que representem a cultura de massas.

O desenho em formato de série irá incluir referências ao folclore e cultura do país, contribuindo para de dar conta da demanda crescente por conteúdos que consolidem a cadeia produtiva do mercado audiovisual brasileiro. O produto também tem a potencialidade de interagir com outras mídias – gerar outros produtos como website, games, quiss, quadrinhos, e produtos de marketing e publicidade, como toys arts e posters.


→  ARGUMENTO DO PRIMEIRO EPISÓDIO:

FASTFOOD NA ERA DO FOODTRUCK

Mais um dia comum nos bastidores do circo. Bipo acorda em seu trailer cheio de espelhos. Está muito bem-humorado, dá bom dia aos seus reflexos - alguns o respondem, outros apenas ignoram e seguem fazendo suas atividades (cortando unha, arrumando o cabelo). Maximus, o homem mais forte do mundo, está sentado num banquinho concentrado devorando um livro, passando os olhos rapidamente pelas páginas. Bárbara, a mulher barbada, sai se seu trailer com um espelho e uma pinça e senta ao lado dele, se penteando e retocando a barbicha. No relógio, são 10h10 da manhã. Todos aguardam o café da manhã, sempre preparado por Zé, o palhaço.

Zé está em seu trailer quarto, procurando aflito por algo. Vasculha as pilhas de feno em seus aposentos como se tivesse perdido uma agulha no palheiro. Ele sai de seus aposentos e, na área externa, todos o esperam ansiosamente para o café da manhã. No entanto, ele está muito bravo: seu olhar está raivoso, suas mãos estão na cintura. Ao ser questionado sobre a comida, responde que não irá mais cozinhar enquanto seu pó de arroz não aparecer. Zé é aficionado por este produto e não vive sem ele para se maquiar.

Bipo, Maximus e Bárbara começam a procurar o pó de arroz pela Caravana Casa, deixando o local uma bagunça. Enquanto isso, no quintal, a avestruz passeia tranquilamente com a cabeça branca: em sua goela há um círculo que indica onde foi parar o procurado pó. Ao perceber onde foi parar a maquiagem de Zé, Bipo corre atrás da avestruz e, ao alcançá-la, tenta fazê-la vomitar, mas a ave acaba terminando de engolir o precioso aparato de maquiagem do palhaço. Ao perceber o que fez, Bipo fica desorientado, pois já imagina a reação de Zé. E o palhaço é imprescindível para o funcionamento da casa. Ele arruma os trailers, o quintal, faz a comida e sempre tem um parafuso ou uma tábua fora do lugar. Sem Zé, Bipo não dá conta. As tarefas mais básicas são feitas por ele; e sem ele o circo seria uma zona total.

Bipo volta correndo para o seu trailer quarto, tranca a porta, olha em um de seus espelhos, buscando uma resposta para o dilema; mas seus reflexos estão indiferentes ao seu sofrimento e seguem fazendo suas atividades (pentendo o cabelo, olhando numa lupa). Ao olhar pela janela, vê Bárbara e Maximus ainda sentados à espera da refeição matinal e não quer desapontá-los. Bipo tem uma ideia: ir para a cidade em busca de um pó de arroz o mais rápido possível.

O mágico sai do circo e caminha em direção a estrada principal. Enquanto anda, olha para baixo muito pensativo. Sabe que não tem dinheiro para comprar um pó de arroz novo, sequer tem um bolso. Já na beira da estrada, ergue o dedo para pedir carona, mas nenhum dos carros que passam param. O caminho é desértico. Não há nada além de um curral com vagas e algumas galinhas soltas. Ao longe, como uma miragem, avista uma lanchonete em formato de caminhão. Nos letreiros lê-se “FoodTruque FastFood; coma rápido antes que a fome te devore”. No outdoor, uma promoção do melhor sanduíche do mundo, acompanhando por batata frita e um refrigerante. Bipo arregala os olhos e saliva ao ver o cartaz ao longe. Caminha em direção ao veículo. Bipo se aproxima do balcão e há dois atendentes vestidos de palhaço. Bipo está encantado com o estabelecimento e os palhaços fazem palhaçadas, sugerindo que o sanduíche mais gostoso do mundo tem um segredo indecifrável - nem eles mesmos sabem, apenas o donod o estabelecimento. Ainda na lateral do veículo está escrito: “Procura-se operador de máquina”.

Um palhaço sai de trás do veículo e assusta Bipo: é o dono da empresa. Em sua camisa há uma inscrição “O chefe”. O palhaço gargalha desmedidamente com ares sombrios. Está vestido com o uniforme como o dos outros dois. Bipo está meio assutado e ele mal se apresenta e pergunta se Bipo já experimentou o melhor sanduíche do mundo. Bipo está com fome, sua barriga dá estalos, e num balão de pensamento imagina Maximus devorando o sanduiche. Talvez para Bárbara seja grande demais. E Zé? Imediatamente lembra que a questão com o palhaço mais embaixo: ele precisa, antes da comida, do pó de arroz. Bipo logo pergunta ao atendente se por acaso eles trabalham com pó de arroz. Os dois palhaços atendentes, meio desconfiados, atrás do balcão negam veementemente. O chefe aparece de supetão atrás dos atendentes.

De dentro do veículo, chefe do estabelecimento apresenta a Bipo o FoodTruque FastFood. Lhe mostra a pequena cozinha toda automatizada, onde há mãos mecânicas de palhaços fritando batata e hambúrgueres, amassando pães e também os tirando do forno. As superfícies de metal reluzem e aparentemente está tudo muito limpo e organizado. Bipo se inclina para cheirar as batatas fritas e uma batata acaba ficando presa em seu bigode. Ao perceber que o mágico faminto irá comer uma batatinha, o chefe nega veementemente a ação e joga novamente a batata no óleo. Insiste para que Bipo conheça todos os detalhes, inclusive sua sala privativa - um trailer acoplado ao veículo. No caixa, há uma fila de pessoas esperando pela promoção, todas gordinhas e aparentemente viciadas em fast food.

Bipo e o chefe caminham para a sala privativa. Enquanto isso, os dois palhaços no balcão trabalham rapidamente, sempre sorrindo e fazendo piadas. Os clientes esperam ansiosamente pela comida. Na parte externa do veículo, há várias mesas e cadeiras para os clientes. Todos os lugares estão ocupados e há uma fila de espera. Bipo observa de longe o sucesso do empreendimento e fica maravilhado com a iniciativa. O chefe então segura nos ombros de Bipo e o empurra Bipo para dentro de sua sala.

O palhaço chefe entra em sua sala. Há uma mesa automatizada. Ele senta, coloca os pés na mesa, a gaveta imediatamente se abre e uma mão de palhaço ergue maquiagem instantânea. Enquanto recebe borrifadas automáticas de pó de arroz na cara, o chefe conta sobre o produto, diz capaz de maquiar seus funcionários em apenas alguns minutos, ao mesmo tempo em que lhe deixa mais engraçados e capazes de fazer piadas e conquistar os clientes. O chefe mostra como é acionado o aparato, um estojinho prateado, que imediatamente dispara uma borrifada gigante de pó de arroz no rosto de Bipo. Após levar uma borrifada, Bipo dá uma gargalhada e faz uma piada. O chefe então lhe oferece um uniforme e Bipo aceita, como se estivesse hipnotizado.

No circo, avestruz segue enérgica bicando toda a bagunça; roupas, instrumentos musicais, lonas, pregos. Bárbara e Maximus estão com tanta fome que já é visível que estão mais esguios. Meio sonâmbulos, mal conseguem se movimentar ou se comunicar. No entanto, ao verem o animal musculoso galináceo, já ficam animados e juntos começam a correr atrás dela.  A avestruz corre em círculos e os dois vão atrás dela, já a olhando como um frango assado. Zé segue irredutível lixando as unhas: não moverá uma palha enquanto não tiver sinais de seu pó de arroz.

No FoodTruque FastFood, tudo é trabalho. Sem se dar conta, Bipo já está uniformizado e sentado em frente a máquina automática que opera a fritagem dos hambúrgueres e batatas. Impressionado e tentando entender o funcionamento da geringonça automática, Bipo para em frente ao balde de óleo fervente e vê as batatas fritando. Segue faminto, mas é impedido de dar uma bicada na comida; toda vez que tenta é repreendido pelo chefe ou por uma mão automática. Quando pega colher uma para experimentar o molho colorido que sai da máquina, o chefe aparece de supetão e aperta um botão, fazendo com que a máquina sugue o líquido para dentro, como se fosse um chiclete. Ao se inclinar para cheirar a bandeja de pãezinhos, o chefe o puxa para trás e coloca em sua mão as caixinhas para embrulhar as promoções.

Bipo está em frente a máquina que opera a chapa de hambúrgueres suado e todo lambuzado de óleo. Após passar a mão no rosto, retira uma lâmina de óleo. Vai lamber o dedo, e é surpreendido pelo chefe com um vidro de detergente. Em seguida, Bipo está de fronte ao forninho olhando os pães assarem. Está vidrado, assistindo os pãezinhos incharem.  Uma mãozinha automática o cutuca e indica que volte ao posto de trabalho, operando a máquina.

Aós um dia de expediente, Bipo está passando a vassoura na área externa do Foodtruque. Retira todas as mesas e cadeiras e caminha em direção ao trailer do chefe. Entra na sala e vê sua imagem refletida no espelho do banheiro. Sua imagem acena, o chamando para o local. Ao entrar no banheiro, a porta se fecha sozinha. Sua imagem está irritada com Bipo, da forma como foi empregado sem mesmo saber se vai ganhar algo. Então lhe obriga a trocar de lugar com ela, para que ele consiga se livrar do trabalho escravo. De relance, ele percebe que o chefe está conversando baixinho com os dois atendentes lado de fora da conveniência. Bipo sai do banheiro e já com uma expressão mais decidida senta em frente a mesa do chefe. Sem que ninguém  note, senta na mesa, a gaveta se abre e uma mão ergue a maquiagem automática. Bipo segura o aparato, que puxa de volta, mas acaba conseguindo colocá-lo dentro da cartola.

O chefe do FoodTruque FastFood está em frente aos caixas contando o dinheiro. Bipo sai da sala e segue limpando o salão assobiando, tentando disfarçar. Tentando agradar seu novo funcionário, o chefe olha para a prateleira de hambúrgueres e vê que sobraram alguns. Então diz para o mágico que ele pode levar para casa as promoções do dia que não foram vendidas; e também refrigerante que ficou preso no coletor da máquina. Contente e satisfeito, Bipo coloca os restos de comida dentro de caixinhas coloridas e se despede. O chefe diz que o espera no próximo dia; afinal, fez um ótimo trabalho. Bipo concorda, dominado pela expressão que adquiriu após olhar no espelho, e sai com a certeza de que nunca mais voltará ali.

Bipo está na área externa ao do FoodTruque e acena dando tchau para o chefe e sua equipe. No entanto, enquanto balança o braço sem muito traquejo com as caixas de comida, o pó mágico acaba caindo no chão. Então o chefe o chama de volta acenando com o dedo, mas Bipo finge que não está vendo e segue caminhando de costas dando tchau. O chefe grita “pega ladrão” enquanto Bipo começa a correr pela estrada, tentando fugir.

O chefe aciona os motores do FoodTruque, os dois palhaços entram no veículo e começa a perseguição na estrada. Na correria, Bipo consegue pular na caçamba de um caminhão em movimento que transporta de vacas e galinhas gigantes. O veículo está na velocidade máxima e o chefe grita para que os palhaços coloquem mais carvão nos motores. Quando os dois veículos estão lado a lado, Bipo olha para uma galinha gigante e monta nela, deixando os dois caminhões para trás. Enquanto os palhaços tentam aumentar a velocidade, sendo comandados pelo chefe, que grita para que coloquem então óleo, batatas e pães nos motores. Quando percebe que será alcançado, Bipo joga as caixinhas de comida no meio da pista. O FoodTruque então derrapa e cai de um penhasco na estrada.

A galinha gigante então deixa Bipo em casa. Ao chegar no circo, a avestruz se aproxima do animal começa a bicá-lo. Sem conseguir controlar a avestruz, Bipo separa a briga e o empurra de volta para a estrada, lhe desejando um futuro melhor que o abate.

Ao entrar na Caravana Casa,  Bipo vê  Bárbara e Maximus já desmaiados de fome. Ao o verem, os dois abrem os olhos, fazem um movimento lento e desmaiam. Bipo passa por eles correndo em direção a Zé. Em postura de mágico, tira a cartola da cabeça e dela retira uma galinha, que sai correndo para o quintal. Zé ri, sem entender direito o que virá pela frente. Bipo mexe novamente na cartola e dela tira a maquiagem instantânea dos palhaços do FoodTruque FastFood. Os olhos de Zé brilham. Bipo então o entrega o aparato e, ao segurar o estojinho com as duas mãos, Zé leva uma carimbada de pó na cara.

Para surpresa de todos, Zé dá uma gargalhada e começa a fazer palhaçadas. Então caminha para  cozinha e começa a voltar com a bandeja cheia de comida. Começa a colocar à mesa um jantar saudável, que os esperava para o jantar: arroz, feijão, bife, batatas fritas e frutas de sobremesa. Todos sentam a mesa e, especialmente Bárbara e Maximus, devoram a comida, enquanto Zé faz piadas e ri sozinho. Bipo ri um pouco sem graça. Bárbara e Maximus apenas comem.

Epílogo: No dia seguinte, no FoodTruque FastFood está de novo na estrada, só que todo amassado. Os três palhaços estão com o rosto todo borrado e mau humorados. Quando o chefe tenta entrar no automóvel, as maozinhas automáticas o empurram para fora do estabelecimento. O mesmo acontece com os funcionários. Então uma das mãozinhas ergue uma placa e pendura na porta do Foodtruque: “Estamos de férias.”


EXEMPLOS DE OUTROS EPISÓDIOS:

EPISÓDIO 1 - SALVOS PELO PAU BRASIL
O circo vai para a praia. Bipo resolve fazer kitesurf e se distancia da costa mais do que devia. Após desmaiar de sede, tostando ao sol, chega numa ilha habitada por dadaístas antropofágicos. Além de serem cultuadores do sol negro, eles se comunicam usando figuras de linguagem, em especial oxímoros, como "esta é uma verdadeira mentira" ou "se apresse lentamente" ou "não experimente o doce veneno".  O mágico está maravilhado com os corpos sutis (braços que são cabeças ou corpos sem extremidades) e acaba fazendo vários amigos. Num passeio, come um pedaço do cacto, sem saber que é sagrado, e é condenado. Na mesma noite, todos iniciam uma dança coletiva. Bipo será sacrificado, apesar dele mesmo achar que está apenas ornando um ritual sagrado. Zé e Bárbara montam nas costas de Maximus e juntos seguem a nado para a ilha. No caminho, Zé recolhe uma oferenda no meio do mar para Iemanjá - um pedaço de madeira. Mais tarde, descobrirão que a oferenda na verdade é o talismã pau Brasil, sagrada arte talhada pelos ancestrais locais, que acabará por salvá-los.

EPISÓDIO 2 - OS FANTASMAS QUE MANTEMOS VIVOS
Neste episódio, a trupe chega numa cidade estranha onde aparentemente nada acontece. Após se perderem, cada integrante do grupo irá entrar em contato com seus fantasmas do passado. Bárbara acaba voltando para suas memórias de infância, quando quase fora levada por sua mãe para a Academia Feminina de Etiqueta e Boas Maneiras. Maximus fica preso dentro de uma academia fitness, rodeado por homens musculosos e depilados. Zé acaba voltando para o circo, pois trabalho não lhe falta. Bipo passeia pela cidade e conhece o Velho Cabeludo Ragatanga, o fantasma de um sábio selvagem que usa apenas uma tanga. Este mentor irá lhe revelar o que acontece no mundo dos mortos e o caminho para libertar Bárbara e Maximus de seus pesadelos.

EPISÓDIO 3 - SUAVE COISA NENHUMA: DECIFRA-ME OU TE DEVORO
Em segredo, Maximus decide fazer um retiro espiritual em um povoado nudista. Apesar de pacifistas, os iogues brigam muito por poder. Num dia de meditação em que são obrigados a ficarem em silêncio, brigam gesticulando. Bipo segue Maximus e acaba se perdendo no caminho. O mágico está prestes a ser devorado por um monstro faminto, que só pode ser vencido com a inteligência, após a resolução de uma questão ou mistério. Um dos desafios propostos  por esta espécie de esfinge é que seja imediatamente colocado em ordem um cubo mágico. Maximus recebe uma mensagem telepática que deve retornar e, no caminho, salva Bipo, após montar rapidamente o quebra-cabeça.

EPISÓDIO 4 - TRANCE & DANCE NA FLORESTA
Bipo captou sinais de uma festa na floresta intitulada Inffected Mushroom. Contudo, uma falha na transmissão lhe impede de ouvir o exato local do evento. Junto com Maximus, Bárbara e Zé, este último meio a contragosto, grupo adentrará a floresta em busca da farra. Após despistarem lobos, coiotes, ursos e até mesmo o curupira, o grupo se depara com os anfitriões da festa no meio da floresta: um casal de cultuadores da evolução psicodélica. Embalados por músicas experimentais, a trupe curtirá festa mais divertida de suas vidas.

EPISÓDIO 5 - QUEM NÃO TEM OFURÔ USA OFURICO
Zé está inspirado com a arquitetura pós-moderna e suas nuances inesperadas. Após folhear uma revista de arquitetura e paisagismo, decide modernizar as instalações do circo. Em companhia da trupe, vai parar numa megastore de artigos para o lar. Após rodarem por várias sessões e irem para o caixa com os carrinhos cheios de produtos, com os trocados reunidos de todos os integrantes do circo, só conseguem comprar um ofurô pré-moldado e um saquinho de sementes de girassol. Com a ajuda de Maximus, Zé seguirá as instruções do manual de montagem com aproximadamente 200 páginas e o resultado é, na leitura de Bipo, um excelente “ofurico”.

EPISÓDIO 6 - BOQUINHA NO OMBRO
Com a Caravana Casa em movimento, a trupe resolve fazer um passeio rio abaixo. Orientados pelos sinais captados por Bipo do programa radiofônico "Isso é horrível", são surpreendidos por uma contaminação no berço das águas. Maximus resolve dar um mergulho entre as plantas carnívoras e mutações genéticas. Após nadar entre células com massas humanas, pedaços de mão e pernas, acaba lhe nascendo uma apaixonante boca no braço direito. Voluntariosa e mundana, a boca começa a dar ordens ao grupo, que entra na onda e acabam se perdendo. No meio da mata, encontram um cientista excêntrico muito parecido com William Burroughs, que aparentemente tem a solução para dissolver a boca mutante e as direções para voltarem pra casa... Mas isso terá que ser muito bem negociado.

EPISÓDIO 7 - CADA UM COM SEU PASSADO
Após acordar de um sonho com seu falecido pai, Bárbara resgata suas memórias de infância vendo seu álbum de fotografias e todos são contagiados pelo clima de nostalgia. Enquanto revivem o nascimento de Maximus num campeonato de alterofilismo e as memórias de infância de Bipo no circo de horrores, Zé sai de fininho e todos ficam curiosos sobre seu obscuro passado. Após ver cenas do passado de Zé nos espelhos de seu trailer quarto, Bipo decide que irão passar uns dias numa fazenda. Para surpresa de todos, acabam chegando na casa da mãe de Zé, uma velhinha muito acolhedora e simplória. Constrangido, Zé fará de tudo para ir embora, mas para todos será difícil desvincularem-se do amor a natureza e despedirem-se da calmaria da vida no campo.